Capítulo 9
                                             Despedida
     
      Mais um dia se passou e a minha angústia – causada pelo meu silêncio – continuava. Eu a cada dia pensava em um jeito de falar pra ele, falar o que sentia; o que queria; só me faltava na verdade coragem.
     Eram 11:00 da manhã e novamente minha irmã havia marcado ensaio. Arrumei a casa para receber o pessoal e depois fui tomar um banho. O relógio marcou 12:17 e ouvi minha irmã chegar com o pessoal. Todos já estavam fartos de tanto ensaio, queriam acabar logo com isso, mais eu não, se eles terminassem, eu não o veria novamente. Já estava no final do ano, provavelmente este seria o ultimo trabalho em grupo.
     Fui à janela de Emily, mas Elena – mãe dela – disse que ela não estava. Entrei e fui ao meu quarto arrumá-lo, ainda estava uma “zona”.
     O grupo estava passando a música pela última vez antes de fazerem a gravação e me “extorquiram” para ser a cinegrafista. Eu tinha que fazer o almoço e ninguém havia almoçado também, tinham vindo da escola direto pra minha casa. Fui à cozinha e comecei a preparar as coisas, amassar o alho, lavar o arroz, coisas básicas. Minha irmã sugeriu que todos almoçassem em minha casa, demoraria até todos irem a suas casas e voltarem.  
      Rita e seu parceiro foram ensaiar novamente, eles ainda não tinham pegado direito a coreografia. Virei de costas e Brendon estava me observando.
     — Deixa eu fazer o arroz? – Implorou ele.
     — Tá bom.
     O almoço já estava quase pronto, só faltava o feijão e o arroz.
     — Vamos ver se você tem “manhas” na cozinha. – Falei.
     — Olha que eu tenho “em”.
     Terminamos o almoço e Brendon se queixava por seu arroz ter ficado grudento.
     — Relaxa, acontece.
     Ele deu de ombros com um olhar triste, mas me mostrou seu lindo sorriso torto.
     Todos vieram almoçar.
     Depois, eles arrumaram a sala com um TNT roxo para ser o fundo. Trocaram de roupa e me chamaram para gravar. Foi rápido, já sabiam bem a coreografia, estavam todos cansados e queriam ir embora.
     — Não! – Gritei em mim mesma; e um tanto alto o suficiente para todos ouvirem. Procurei logo uma desculpa esfarrapada.
     — Que foi Kate? – Perguntou-me Danielle.
     — Minha bermuda sujou. Que droga!
     Se ele fosse embora agora não o veria mais, isso não podia acontecer, e se ele também gostasse de mim, não poderíamos ficar juntos.
     Ele foi ao meu quarto pegar sua mochila.
     — Você não vem mais aqui não é? – perguntei.
     — Acho que não.
     — Que pena.
     Se não fosse agora não seria nunca mais, eu tinha que criar coragem e falar pra ele, antes que fosse tarde. Respirei bem fundo.
     — Brendon eu...
     — Sim?
     — Eu... Eu... Eu vou sentir saudades!
     — É, eu também.
     Ele levantou-se e me deu um abraço apertado. Minhas lágrimas caíram lentamente e leves em seu ombro.
     — Você tá chorando?! O que foi Kate?
     — Eu odeio despedidas.
     — Ah! Então, acho que isso é um tchau. Cuide-se viu, você foi uma ótima amiga esse ano.
     — Obrigada.
     Ele virou-se.
     — Brendon, espera.
     — O que é?
     — A verdade é que... É que...
     — É que?
     — A verdade é que eu te amo! – pronunciei rapidamente as palavras e abaixei a cabeça devagar para o lado.
     — Ele ficou petrificado, imóvel e eu fiquei vermelha e chorei mais ainda.
     — O quê?! 
     — O que você ouviu.
     — “Cara”, isso é sério mesmo?
     — O que você acha?
     — Que é uma brincadeirinha, meia sem graça, não é?
     Virei meu rosto e Le obteve sua resposta.
     Ele aproximou-se de mim.
     — Não fica assim Kate, mais é que, eu só te considero como uma amiga, eu te acho super legal, “gente boa”, mais eu só te vejo como minha irmã mais nova.
     — Irmã mais nova?! Eu sabia! – falei sarcasticamente – sempre é assim. Nenhum garoto enxerga o que eu sou por dentro, sempre me vêem como a menininha pequena, frágil e inocente. Brendon, eu posso ser pequena assim, mais tenho certeza que sou muito mais mulher por dentro do que as outras garotas que você “pega” por aí.
     — Calma, não foi isso que eu quis dizer.
     — Ah não?! Então o que foi?
     — Que... Que...
     — Não acha outra desculpa esfarrapada não é? A verdade é que você é igual aos outros, não fica comigo porque não tenho isso – falei colocando as mãos nos seios. Fala se não é? 
     Ele ficou calado.
     — Eu sabia! Brendon; sai do meu quarto, vai embora, sai, sai da minha vida, não quero te ver nunca mais, nunca mais! Sai – gritei o mais forte que consegui.
     Ele saiu sem dizer mais nada.
     Abracei o travesseiro com toda a força que ainda me restava.
  

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